Mercúrio na Amazônia Continental, ameaça real

Mercúrio Amazônia
Foto: Más de 180 toneladas de mercurio son arrojadas anualmente al suelo, al aire y al agua de Madre de Dios, según un estudio de la ONG canadiense Artisanal Gold Council.

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O uso do mercúrio na Amazônia Continental remonta à época pre-colônial e o acumulo exponencial nos rios é ameaça crescente a fauna e as comunidades ribeirinhas.

Minapim by Hernan Valenzuela:  Estudo de Colin A. Cooke, conclui que 1400 aC, no surgimento de complexas sociedades andinas, a região serviu como locus para a extração precoce de mercúrio (Hg). A mineração mais antiga visava o cinábrio (HgS) para a produção de vermelhão, para pintura. Neste período o mercúrio na Amazônia poderia ter uso menos intensivo pelas tribos locais, já que não se configurava como produto comercial.  Tido pelos índios como enfeite, o ouro passa a ter fim comercial para os Colonizadores Espanhóis.

Os colonizadores desceram a cordilheira dos Andes, portavam sacolas de couro com mercúrio para atividade de mineração, e após serem esvaziadas eram usadas para transportar o ouro rumo a Espanha. (Segundo Hamilton, desde 1503 e durante os 160 anos seguintes, chegaram desde a América Espanhola 181 toneladas de ouro, e 16.900 toneladas de prata)

Se consideramos que na mineração artesanal são usados dois quilos de mercúrio para cada quilo de ouro, poderíamos deduzir que somente na época da colônia foram despejados nos rios da América aproximadamente 362 toneladas de mercúrio e esse foi somente o início.

O cobiçado El Dorado talvez estivesse na selva amazônica, mais seja lá onde estivesse, o ouro hoje está em diversas partes da Amazônia continental. Os países que dividem esse vasto território verde, tem atividades de mineração legal e ilegal.

As atividades de mineração legal têm a característica de serem geralmente executadas por empresas de grande porte, com uso de tecnologia que permite o uso do mercúrio e o reaprovetitamento de 99,9% (estimasse). Já na mineração ilegal feita de forma artesanal o mercúrio recuperado pode apenas chegar a 30%, de forma que,  70% do mercúrio fica no meio ambiente,  seja em forma de gás ou em forma liquida nos rios.

Mercúrio Amazônia
Mineração Ilegal na Amazônia Continental Fonte RAISG

Segundo a RAISG, hoje a Amazônia continental tem 1254 garimpos ilegais assim distribuídos : Venezuela 956 – Brasil 205 – Peru 25 – Equador 68, também se reportam garimpos na Amazônia Boliviana , Suriname e Guiana Francesa (não contabilizados).

A região da Amazônia continental segundo a Organização Biomas, tem mostrado uma evolução preocupante em termos de áreas de garimpo. As Áreas de garimpo contabilizadas no ano de 1985 eram de 1332.768261 hectare, no último dado levantado em 2017 a área total era de 14441.48608 hectare, indicando um aumento de 1087,72 % em 32 anos numa média de 33,99% ao ano.

Essa contaminação se torna um pesadelo, na medida que afeta os peixes dos rios. O ingresso do mercúrio através da cadeia trófica é preocupante, principalmente nos lugares onde os peixes são a base da alimentação dos ribeirinhos. Como exemplo,  espécimes piscívoras como o bentón (Hoplias malabaricus), ou surubís (Pseudoplatystoma) e a piranha vermelha (Pygocentrus nattereri), são as que concentram maiores quantidades de mercúrio.

Dois processos naturais favorecem o incremento das concentrações de mercúrio nos peixes: a bio-acumulação e a bio-magnificação. O primeiro é um processo de depósito gradual de uma substancia química no organismo de um ser vivo, devido a que o produto é absorvido com maior rapidez do que pode ser expulso do corpo. E o segundo, a bio-magnificação, que é um processo de acumulação de alguns produtos químicos ao largo da cadeia trófica. “Quanto maior o peixe, maior a quantidade de mercúrio, porque comeu outro peixe e esse a outro menor”,

Para o ser humano a exposição ao mercúrio antes do nascimento e na infância pode causar retraso mental, paralisia cerebral, surdez e cegueira. A evidência científica estabelece que pequenas doses podem causar déficit de atenção e problemas de aprendizado.

A situação em cada país da Amazônia Continental e membros do TCA (Tratado de Cooperação Amazônica )

TCA (1978): Bolívia, Brasil, Colômbia, Equador, Guiana Francesa, Peru, Suriname e Venezuela

Colômbia

Aqui conferimos uma iniciativa exemplar para os diversos países da Amazônia; em 16 de Julho de 2018 ficou na história como o dia que oficialmente a Colômbia proibiu o uso de mercúrio na mineração, assim como já tinha sido estabelecido na lei 1.658 de 2013. Foi determinado que em cinco anos (2018) se proibiria o uso deste elemento em toda atividade extrativa, principalmente aurífera, uma das que más usa mercúrio e que, até 2023, a indústria e todos os processos produtivos no país deverão eliminar o mercúrio de sua atividades.

 Brasil

O Brasil, de todos os países amazônicos, provavelmente possui o conjunto mais elaborado de políticas e regulamentações referentes à mineração de ouro em pequena escala. No entanto, a maioria dos mineiros de pequena escala continuam a trabalhar sem as licenças ambientais e de mineração necessárias. Como resultado, o setor continua associado a danos ambientais e com riscos para a saúde, oferecendo ao mesmo tempo uma alternativa de subsistência para milhares de indivíduos das regiões mais pobres do Brasil.

Guiana Francesa:

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Mineração na Guiana Francesa

A exploração legal de ouro tem oficialmente 183kms², com permissão para a pesquisa 1.701 kms². Recentemente entrou na lista uma área de 1.250 kms² de potencial extração, o projeto em curso está no auge da discussão: A exploração significaria um poço aberto com 2,5 quilômetros de comprimento, 500 metros de largura e 400 metros de profundidade. O consórcio de empresas russo-canadenses quer abrir um buraco gigante na selva da Guiana Francesa. Eles extrairiam 400 milhões de metros cúbicos de solo, moendo a rocha e processando-a com cianeto e outros produtos químicos altamente tóxicos, para obter o ouro.

O projeto nasceu em 2014, com as multinacionais Nordgold e Columbus Gold é conhecido como Montagne d’Or  ou “Montanha Dourada”. Foi estimado que 167 toneladas do metal precioso poderiam ser extraídas. Em 2017, um primeiro estudo de viabilidade financiado por empresas foi concluído de forma positiva e os primeiros procedimentos foram realizados.

Atualmente, o projeto Montagne d’or é “incompatível com uma ambição ecológica”, disse Emmanuel Macron na segunda-feira, 6 de maio de 2019, no Elysium, depois de receber uma delegação de cientistas da Plataforma Intergovernamental de Biodiversidade e Serviços de Ecossistemas (IPBES).

Suriname

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Mineração de Ouro em Suriname

As vastas e antigas florestas tropicais do Suriname continuam sendo um dos segredos naturais mais bem guardados do mundo, mas a demanda global por um mineral milenar ameaça destruí-los.

Os altos preços recordes do ouro na última década provocaram uma enorme corrida ao ouro em todo o país e na Amazônia em geral, resultando na destruição de milhares de hectares de florestas tropicais e na contaminação dos principais rios com materiais altamente tóxicos.

Equador

Com 68 garimpos ilegais segundo RAISG, as concessões mineiras em áreas sensíveis não se detém.

As comunidades indígenas e camponesas enfrentam o não cumprimento de consultas prévias, acumulando em seus territórios danos ambientais. Somente na Floresta Protetora Kutuku Shaimi, na Amazônia Equatoriana, foram concedidas 42 concessões, equivalentes a 200.000 hectares.

Bolívia

O presidente assina o Decreto Supremo 26.075 sobre as Terras de Produção Florestal Permanente e permite a limpeza de atividades agrícolas em terras privadas e comunitárias, além de autorizar a queima controlada. 4 milhões de hectares da Amazônia.

Um estudo do governo indica que 70% das 133 toneladas de mercúrio que a Bolívia libera por ano vêm da mineração de ouro.

Em 2016, um estudo científico realizado em dez rios da Amazônia boliviana confirmou que várias espécies de peixes estão contaminadas com mercúrio.

Um estudo realizado pelo Cedib em 2014 estimou que havia entre 600 e 800 jangadas de mineiros explorando ouro no rio Madre de Dios, embora apenas 413 tivessem autorização. Cada jangada usava entre 500 e 1000 gramas de mercúrio por dia.

O governo Boliviano estima que a produção de ouro seja responsável por 47% das emissões de mercúrio, de acordo com o livro “Mercúrio na Bolívia: linha de base das emissões e usos da poluição”

Peru

Segundo a Ong Artisanal Gold Council, mais de 180 toneladas de mercúrio são despejadas anualmente no solo, no ar e na água em Madre de Dios. De acordo com as o Observatório Mundial de Mercúrio, valores acime de 150 toneladas anuais já é preocupante.

Venezuela

Presidente Nicolás Maduro aprovou Plano de Desenvolvimento Mineiro 2016-2018, que reserva ao estado as atividades de exploração do ouro.

Com 960 minas ilegais, a abertura do Arco Minero do Orinoco começa a ter efeitos nocivos, não só com o aumento da delinquência e a destruição da cultura indígena: as comunidades ribeirinhas no Estado de Bolívar têm altas taxas de mercúrio no sangue, cabelo e tecidos humanos.

Esse quadro na Amazônia Venezuelana surgiu após o termino da concessão à empresa canadense Crystallex, que operava o campo Las Cristinas, no estado de Bolívar. Seu relatório de 2003 encontrou reservas de mais de 453 toneladas de ouro com uma vida útil de 34 anos. Portanto, o preço foi de 114,64 dólares por quilo. A concessão foi entregue em 2011 a duas empresas russas, através do controle da empresa estatal Minerven. O preço do ouro aumentou, podendo exceder 482 dólares por quilo.

A conscientização é o caminho

Os dados acima mostram que os documentos assinados pelos países, não se concretizam em ações eficazes, poderíamos resumir que há poucas exceções quanto a preservação da Amazônia, o que sugere que a mídia em geral, podem estar desinformando e manipulando a população em busca de proveito político ou defendendo interesses comerciais, na medida que só se tenta mostrar um culpado para danos criados por todos. As evidências cientificas mostram que nem mesmo os que detém tecnologia e recursos para proteger a Amazônia, tomam atitudes eficazes para tal efeito.

A contaminação com mercúrio agride o meio ambiente e põe em risco o habitante da floresta Amazônica Continental. TCA (1978): Bolívia, Brasil, Colômbia, Equador, Guiana Francesa, Peru, Suriname e Venezuela.

A nossa casa é o planeta, a floresta pertence a cada morador e cada país acima relacionado, por tanto a preocupação deve ser de todos. Se contaminamos os rios também estamos contaminando o mar, e é bom lembrar que o maior perigo para humanidade poderá vir do mar!!

Artigo relacionado: A quebra de um “limiar de carbono” pode levar à extinção em massa

Informação adicional:

A Amazônia apresentada nesta publicação é uma região de alta diversidade socioambiental em rápida mudança. Abrange um total de 7,8 milhões de km2, cerca de 12 macro-bacias e 158 sub-bacias, administradas por 1.497 municípios, 68 departamentos / estados / províncias em oito países: Bolívia (6,2%), Brasil (64,3%), Colômbia (6,2 %), Equador (1,5%), Guiana (2,8%), Peru (10,1%), Suriname (2,1%) e Venezuela (5,8%), além da Guiana Francesa (1,1%). A Amazônia abriga cerca de 33 milhões de pessoas, incluindo 385 povos indígenas, alguns deles vivendo em “isolamento”. Existem 610 ANPs e 2.344 TIs, ocupando 45% da superfície terrestre da Amazônia, sem incluir os proprietários de pequenas, médias e grandes áreas rurais. Propriedades, empresas de vários tipos e instituições de pesquisa e desenvolvimento, bem como organizações religiosas e da sociedade civil.

Fontes:

  • Base consolidada com las fontes información:
  • Bolivia: FAN, CEDIB en base a SERGETECMIN, 2013;
  • Brasil: DNPM, jan/2018; Colombia: Catastro Minero Colombiano, 2017;
  • Ecuador: ARCOM, 2018;
  • Guyane Française: DEAL – Minería,
  • Guyana: Geology and Mines Comission, 2009;
  • Peru: INGEMMET, marzo/2018;
  • Suriname: Natural Resource and Environmental Assesment-NARENA;
  • Venezuela: Ministerio de Energía y Minas, 2009, Gaceta Oficial No. 426.514, 2016;

Outras Fontes:

 

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