A Ciência seus resultados e as dificuldades da sua continuidade

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Prof. Petrus Santa Cruz, do Departamento de Química Fundamental da Universidade Federal de Pernambuco UFPE

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 – Entrevista no Programa ESPECIAL COVID19 da Rádio Universitária da UFPE em 19 de maio de 2020, com Petrus Santa Cruz, Professor Titular do Departamento de Química Fundamental da Universidade Federal de Pernambuco há 25 anos, que atua nas pós-graduações de Química e de Ciência de Materiais:

Para Minapim por Prof. Petrus Santa Cruz: “Desde que o surto de COVID-19 foi classificado pela OMS como pandemia, há cerca de dois meses, ficou ainda mais evidente a importância da independência tecnológica de um País, num cenário em que se globalizam as dificuldades.

É que diante de um novo problema, novas soluções precisam ser construídas com base em conhecimento científico acumulado, e para isso é preciso se voltar a ver a Ciência como estratégia de desenvolvimento de nação, em que as capacidades intelectuais são mais relevantes para o desenvolvimento econômico do que capacidades físicas, contrária dessa visão de se esperar uma nação se estruturar economicamente se desfazendo de seus ativos e explorando tecnologias de terceiros, erro estratégico que levaria a uma fragilidade com implicações que pudemos antecipar na pandemia em curso.

Numa sociedade articulada e com maior capacidade de inovar, empresas podem absorver o conhecimento científico produzido nas universidades para responder a situações emergenciais. O que vemos no Brasil é a universidade pública fazendo múltiplos papéis, gerando conhecimento e transformando produção científica em produtos e processos, e atuando em ações emergenciais, mas estamos utilizando conhecimento acumulado de um período onde havia investimentos.

A Universidade Federal de Pernambuco UFPE foi pioneira no País em pesquisas em Nanociência, com a Rede RENAMI do CNPq a partir de 2002, INCT INAMI do MCTI e Rede Nanobiotec Brasil da CAPES a partir de 2008 e a Rede LARnano/SisNANO, a partir de 2013, mas que o atual MCTIC nos desvinculou no ano passado. Essas pesquisas resultaram em patentes de produtos e processos nanotecnológicos, e alguns deles estamos utilizando em novas soluções propostas para o enfrentamento do novo Coronavírus.

Por exemplo, unindo patentes da UFPE, uma de novos materiais imprimíveis com nanopartículas metálicas, que tem ação antimicrobiana ativa, com outra patente, de produção de texturas autodescontaminantes bioinspiradas, estamos trabalhando em materiais para impressão de válvulas autodescontaminantes, para permitir entrada desses dispositivos em ambiente de UTI sem necessidade de esterilização por autoclavagem.

Num outro exemplo, patente da UFPE de nanodosímetros pessoais para prevenção de câncer de pele está sendo utilizada para dispositivo de monitoramento pessoal de produção de Vitamina D3 cutânea catalisada pelo sol, numa ação preventiva diante da correlação da deficiência dessa vitamina com maior vulnerabilidade a riscos de infecções respiratórias agudas, num cenário em que no necessário confinamento da população, há redução de exposição solar, devendo ser necessária a reposição pós-pandemia com ação preventiva contra novos surtos.

Na economia, muitos que defendiam o encolhimento do estado, de repente, quando precisam, recorrem ao Estado sem o menor constrangimento, mas em ciência não se pode ter um botão liga-desliga, em que só se liga quando há necessidade, pois há riscos de defasagens irrecuperáveis.

E é este risco que o Brasil corre com políticas públicas desestruturantes da pesquisa científica, ao cortar recursos das Universidades Públicas, onde é gerada a quase totalidade da produção científica do País, com apoio dos órgãos de fomento como o CNPq, Capes e Finep, complementados pelas FAPs (fundações de amparo à pesquisa).

É importantíssimo ressaltar que proporção do PIB brasileiro em relação ao PIB mundial é a mesma da produção científica do Brasil em relação ao mundo. Decorrente desta pandemia, haverá um encolhimento do PIB, e mais uma vez o investimento em ciencia, tecnologia e inovação fará a diferença.”

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